Patrícia Amorim anunciou e o próprio Galinho confirmou: vai ser o responsável pelo futebol do Flamengo.
Particularmente, eu sempre fui contra a volta de Zico ao clube para atuar na administração por conta de dois motivos:
O primeiro é que sempre entendi que o Flamengo precisa de profissionais experientes para funções administrativas.
Roberto Dinamite, eleito Presidente do Vasco, e Júnior, no próprio Flamengo, são bons exemplos de que não adianta apenas um craque doscampos aparecer todo pimpão, armado apenas com as melhores das intenções para fazer o clube funcionar. Tem que saber aonde está se metendo, o que está sendo feito de errado e as ações que podem ser tomadas para realizar as melhorias necessárias.
Conhecimento técnico, enfim.
Algo comparável ao movimento do final dos anos 80 que pedia Sílvio Santos para Presidente do Brasil.
O segundo motivo é que não vejo razão para Zico voltar ao clube e arriscar arranhar de alguma forma uma biografia profissional das mais perfeitas da história do esporte. Da história de todos os esportes, eu quero dizer.
Sempre temi pelo momento em que a devoção por conta dos 508 gols marcados sob veste do Manto se transformassem em raiva e gritos de “burro!” como já aconteceu com o já citado Júnior, quando encarou o desafio de ser técnico da equipe.
Entretanto, essas considerações tinham cabimento mais quando se imaginava Zico como Presidente do Flamengo. E isso, por enquanto, não vai acontecer. Por isso, ambos os motivos ainda permanecem em funcionamento. Mas não para o caso atual, em que Zico assume o comando do futebol rubro-negro.
Só de afastar Patrícia Amorim de uma vez por todas do comando do futebol a notícia já deve ser comemorada. Zico é do futebol, é respeitado, honesto e conhece muito, mas muito mais da função do que a Presidenta jamais vai conhecer.
Se tiver poderes plenos dentro do clube, o Flamengo pode ter acertado na mosca. Zico é uma pessoa sensata e honesta, com grandes contatos no mundo da bola e de muita influência sobre o que acontece dentro de campo.
Não tenho dúvidas de que fará um grande trabalho.
Se vai resolver os problemas do clube? A resposta para uma questão tão subjetiva e abrangente já é bem mais complexa.
No exato momento em que o nome de Zico foi confirmado, cerca de 40 milhões de pessoas ficaram cegas. Não, não perderam o dom da visão, apenas pararam de enxergar que o semestre rubro-negro continua na lata de lixo, que o futebol do clube está em frangalhos e que Zico ainda nem assumiu e por isso, ainda não fez nada pelo clube na atual função.
A torcida mais iludida do Brasil comemorou a contratação de Zico da mesma forma que comemorou dezenas de outras contratações bombásticas, como Romário, Edmundo, Zé Roberto, Palhinha, Dimba, Souza…
Afinal de contas, Zico vai chegar montado numa nuvem mágica e, tirando um arco-íris da cartola, todas as dívidas do clube serão quitadas, e aí todos vamos cantarolar enquanto Michael e Ramon começam a jogar melhor que Pelé e Garrincha e o Flamengo é octacampeão mundial.
Por que é tão difícil para o torcedor rubro-negro manter os pés no chão? Por que tanta necessidade em viver no mundo da fantasia? Por que tanto gosto por ser enganado?
A contratação de Zico foi a melhor ação tomada pela gestão de Patrícia Amorim, sem a menor sombra de dúvida. Mas nada ainda foi feito.
No mundo real, o time do Flamengo é de baixo nível técnico e luta para não ser rebaixado no Campeonato Brasileiro. Antes da Copa do Mundo, algumas partidas serão disputadas e o resultado talvez não seja favorável.
Esses fatores não irão melhorar automaticamente apenas porque Zico foi contratado. Para que seu trabalho traga resultados, será necessário muito tempo e vontade política vinda de dentro do clube.
Vamos esperar, ter paciência. Vamos deixar o Galinho trabalhar. Vai sair coisa boa dali.
Por mais irritante que seja a alegria cega da torcida, num daqueles frenesis cênicos que assemelham-se ao voto dos pobres em políticos corruptos, nada seria pior que ver torcedores do Flamengo pedindo a saída de Zico com a mesma ênfase com que comemoraram sua chegada.